segunda-feira, 9 de julho de 2007

NA TORRE DE BABEL BIBLIOTECÁRIA - O QUE FAZER?

Para que tanto livro? Para que tanto blog circulando por aí? Parece ter tanta gente aspirando a ser escritor quanto candidatos a esta vida sem surpresas, sem riscos e bem remunerada dos funcionários públicos. Vamos um dia juntar a montaha de livros das melhores bibliotecas do mundo e veremos: estão quase todos mortos. Alguns tiveram seu breve momento de brilho e servem só para a História. Outros tantos foram natimortos, porque não traziam nada de importante, novo, verdadeiro ou mesmo belo. Custou o esforço de vidas inteiras, vidas inteiras que, ao menos no aspecto literário foram um verdadeiro desperdício. Hoje podemos deitar ao lixo quase toda a obra de Karx Marx, mas ainda demorará séculos para que o stablishment aceite este salutar descarte. E ainda assim merece sobreviver como exemplo de que a que ponto pode um intelecto tão poderoso, de uma paixão avassaladora, construir um tenebroso castelo irreal, alicerçado em areia movediça. Pobre Estêvam Trofimovich Verkovenski, tinha-se na conta de grande intelectual russo. Olhando-se nos espelhos era um injustiçado, coitado, um incompreendido. Sempre cheio de projetos irrealizado, para os quais não tinha o menor talento. Sua grande contribuição à humanidade foi gerar o Verkovenski Júnior, esse sim um terrorista de talento e produtivo.

Na Universidade tive às dezenas - e eram a maioria mesmo - professores cheios de projetos, alardeando fazer grandes coisas para o progresso da nação e da ciência. Andavam de um lado para o outro sempre estressados com seus planos, davam ordens aqui e ali, criavam inúmeros projetos de pesquisa em iniciação cietífica, enchiam seus currículos de artigos acadêmicos que não diziam nada de novo, que choviam no molhado o tempo todo, que repercutiam as teses mais batidas (em verdade coleções de slogans tradicionais da academia). Tinha a professora do Projeto Informius, um site destinado a fazer conhecer aos nossos concidadãos os seus Direitos mais comezinhos. Entrava-se no referido sítio e... nada informius! Mas alardeava, prometia mundos e fundos. E quanto mais cheios de títulos e pompas, mais vazio produtivo. Sem contar infinidade de Conselheiros Acácios, de plagiadores e de neandertais de mentalidade do século XIX ou da década de 1960. Havia ainda quem lecionava mais-valia, como se não existisse Bohm Bawerk. E lá a psicanálise não havia morrido. Estava em pleno vigor. Era para eles tão última novidade quanto para mim aos 16 anos. Bastaria que lessem aquele artiguinho do Merquior, esse grande crítico cultural, para poderem deitar ao lixo um Recanto das Cigarras inteiro de teses sociológicas, psicológicas e pedagógicas. Havia a professora que ia ensinar sobre marxismo e começava exibindo fotos do Sebastião Salgado junto com uma música do Titãs na aula de Introdução à Filosofia (“Comida é pasto, bebida é água...”) e ouvindo de alguém que a mulher era comprovadamente, até pela ciência (para se ver que a ciência nem o óbvio, tactil e visível deixa de investigar para não deixar dúvidas), retrucava: "Ah mas a ciência não é neutra..."
Não será fácil a arte de navegar na montanha de lixo, na montanha de obras mortas de gente que teve lá boas intenções, mas que no fim não fez nada de visceral, de imprescindível. Onde estão as obras sem as quais podemos morrer? Estas são as que devem vir em primeiro plano. É claro que há as obras menores, de interesse restrito e mesmo temporário, circunstancial ou meramente profissional. Estas irão morrer inelutavelmente, mas terão cumprido o seu papel. O clássico é o que não morre, embora fique tão distantate de nós com o passar dos milênios e dos séculos, de modo que haja Oto Maria Carpeaux, para restaurar o brilho que a fuligem do tempo recobriu.

Um comentário:

Unknown disse...

Caro:

Muito bom o texto. Parece que finalmente surge um blog decente de Minas Gerais. Parabéns.

Um abraço.

Davi J. Dias

Seguidores

Arquivo do blog