quinta-feira, 8 de abril de 2010

As Certezas dos Conservadores.

Conservador. Não me agrada muito o rótulo. Prefiro contra-revolucionário. Depois de tudo o que li sobre o movimento revolucionário não posso deixar de rejeitar a idéia por inteiro. Mas de que tipo de conservadorismo se fala? Em primeiro lugar, atualmente, a palavra foi carregada de toda uma pesada carga pejorativa. Lembra atraso, mal-gosto, decrepitude, chatice. Os conservadores não vencerão se não livrarem o vocábulo desta carga pejorativa. Acho que os escritos de Júlio Lemos vão exatamente neste sentido: mostrar o conservadorismo de um modo atraente.

Muitos também sentem um certo asco pelo conservadorismo por confundi-lo com conformismo e estagnação (lessaiz-faire, lessaiz-passer). Temem o tédio e o caruncho dos móveis velhos. Mas não precisa ser assim. Os conservadores que lutaram contra os totalitarismos do século XX eram ativistas, não-conformistas. Lech Walessa na Polônia, Vaclav Klaus na Tchecoslováquia combatiam um movimento revolucionário cristalizado num regime ditatorial em nome de valores muito mais antigos. No caso concreto, sua ação não visava conservar, mas restaurar. Winston Churchill também era um conservador se opondo ao movimento revolucionário nacional-socialista, sobrepondo-se ao conformismo de muitos de seus compatriotas. No meio da década de 1930, já propunha uma intervenção armada contra os nazistas que poderia quebrar a espinha dorsal do Terceiro Reich rapidamente, evitando as catástrofes da Segunda Grande Guerra e do Holocausto. Gary Casparov na Rússia de hoje, atuando contra os resquícios e as retomadas do autoritarismo soviético no governo Putin também é um conservador. O conservador pode, portanto, assumir uma postura ativa e transformadora.

Também não se deve confundir o bom conservador com o cultor fetichista das formas arcaicas. Este é um risco que todos os conservadores correm de fato. É preciso compreeender que os seres humanos vivem uma existência histórica e mutável. Precisamos constantemente de inovações e transformações, não revolucionárias, é claro. Não compreender isto é um vício em que pode cair o conservador. O próprio Cristo não veio para revolucionar radicalmente o judaísmo, mas para transformá-lo. Os que não aceitaram a transformação por ele trazida, sua boa nova, o crucificaram. No Concílio de Antióquia em 49 d. C, Paulo propunha a transformação ao querer expandir o Cristianismo entre os não circuncidados e Pedro queria a continuidade da seita dentro dos limites estritos do povo judeu. Paulo venceu o debate e garantiu o caráter universal do Cristianismo. É preciso, portanto, aceitar as transformações, encarando-as como uma atualização dos valores perenes. A internet, em grupos de discussão e blogs, está cheia de fetichistas da formas arcaicas, como os católicos que defendem o retorno a ritos ou práticas já abandonados, mas não essenciais à religião cristã, os religious freak (apud Júlio Lemos). Isto vale não apenas em relação a ritos, mas também em relação à moral. O que é pecado e imoral numa época pode não ser em outra. Um intelectual católico conservador, George Bernanos, disse que, numa época de confusão revolucionária, o peso dos pecados é relativizado, ou algo assim? O vício do conservadorismo é, pois, o farisaísmo. É um risco permanente que exige a total atenção do conservador. É muito fácil bater no peito e dizer sou conservador, sou católico tradicional e não perceber que, tal como um personagem no romance Indignação de Philip Roth possa-se, nas atitudes concretas, fazer o papel dos fariseus ou de Pôncio Pilatos enquanto um soi-dissant ateu, anti-católico ou anti-cristo assume o papel da vítima inocente.

***

Havia um tal Chico Xavier no interior profundo de Minas Gerais. Sua imagem desperta uma profunda antipatia não só entre intelectuais materialistas quanto entre os religiosos católicos ou protestantes, pois lembra algo chinfrim, sem classe, sem consistência intelectual. Charlatão ou cultor de supertições para o materialista; herege que desafia o dogma segundo o qual os mortos não se comunicam com os vivos, para o cristão. Quanto asco deve despertar entre jovens intelectuais guenoniamos do orkut! Estes pobres espiritistas não conhecem “O Erro Espírita” de René Guenon, quando lerem este livro esmagador vão cair em profundas dúvidas e se coverterão novamente à religião tradicionalista. Mas pensando na vida do sujeito com benevolência e objetividade vemos que era um sujeito extraordinariamente bom, verdadeiramente caridoso, que não ganhou absolutamene nada com a multidão de crentes que o seguiam, ao contrário de muitos pastores e líderes de seitas sincréticas que se tornam bilionários com o dinheiro dos seguidores. Ao que consta, só trouxe o bem aos que o procuravam. E se os mortos não falam com os vivos, seria o diabo que o inspirava? Mas que mal ele fez? Aceita-se que o demônio possa praticar um bem aparente e fugaz para causar um mal a longo prazo. Mas não há vislumbres deste mal no caso do medium. E por que não poderia o Onipotente, agindo de forma estranha e tortuosa ter feito com que o vidente cresse que via espíritos? Ou por que não poderia o Onipotente permitir que excepcionalmente os mortos falassem com ele? Existe um rol numerus clausus das formas com que Deus pode agir sobre o mundo? Um rol que exclua estas possibilidades que cito? Estão querendo limitar o Onipotente?

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