terça-feira, 10 de agosto de 2010

Desvio de Rota, Torre de Babel e Fragmentação.

Começo a ler o Tractatus do herói cerebral de Paul Johnson e me pergunto se seus aforismos escondem uma verdade profunda ou não passam de tautologias e platitudes. A segunda hipótese parece ser a opinião do homem que retirou a tampa da marmita do Brasil, pois, em seu Seminário, anda colocando o velho Witt abaixo de um cachorro, ao qualificá-lo de “burro” e homem com “neuroses do tamanho de um bonde.” Talvez tudo se resuma a entender o que o vienense quis dizer com o que disse.

Por exemplo: “O mundo é a totalidade dos fatos, não das coisas”. O que quer dizer “mundo”, “fatos” e “coisas”? “Fatos” refere-se ao conjunto das coisas atualizadas? Neste caso, o mundo dele exclui a potencialidade, ou o conjunto das coisas potenciais. Mas o que é mundo para ele? É o Ser, ou seja, o conjunto de toda a potencialidade mais o conjunto de todas as coisas atualizadas? Ou é apenas o conjunto de todas as coisas atualizadas? Na primeira hipótese, sua frase revela apenas que seu mundo é precário, irreal e ingênuo, pois exclui a potencialidade; na segunda hipótese, sua frase é uma mera tautologia. Mas talvez suas palavras signifiquem ainda outra coisa.

Eis o primeiro problema: saber o que o sujeito quis dizer com o que disse.

Há diálogos inexistentes. Duas pessoas conversam e cada um atribui um significado diverso às palavras do outro.

Talvez vivamos numa Torre de Babel em que ninguém entende direito o que o outro quer dizer com o que ele está dizendo. Multiplicam-se as escolas filosóficas e elas se tornam mutuamente incompreensíveis.

Grande lição do homem que retirou a tampa da marmita do Brasil: a grande linha de desenvolvimento do pensamento que a História da Filosofia hegemônica descreve não é a linha que o pensamento humano deve necessariamente seguir e, além disto, não é a única linha que o pensamento humano de fato seguiu. Pior, para ele a História da Filosofia hegemônica (na mídia cultural e na academia) pode excluir, e de fato, teria excluído, correntes de pensamento mais profundas e verdadeiras: as filosofias de Bernard Lonergan, Eric Voegelin, Rosentock, Mário Ferreira dos Santos e Louis Lavelle, por exemplo.

E assim gerações inteiras de estudiosos acabam por gastar suas vidas inteiras com aquilo que não é o essencial. Mas o que é o essencial? Só mesmo acumulando uma grande erudição para poder comparar as diversas linhas de pensamento e destacar as mais valiosas.

E quanto às linhas de pensamento potenciais que jamais foram exploradas ou que, exploradas em algum momento da História, foram abandonadas e esquecidas?

***

As funções dos homens no mundo são cada vez mais especializadas e fragmentadas. O mundo está aí: você arranje um lugar para se encaixar nele. Não será algo extraordinário, não será algo grandioso, a menos que você seja um homem de gênio. O gênio inventa a sua própria profissão. Atribue-se esta frase a Goethe. Os Estados Unidos da América são a nação que maior número de gênios deu ao mundo. Um invento, uma empresa para manufaturar e vender o invento, e o sujeito se torna bilionário em pouco tempo, sua empresa transforma-se numa mega-corporação em pouquíssimo tempo e o modelo se espalha pelo mundo. Esse é o paradigma desde o século XIX. Foi assim com a lâmpada elétrica de Edson, a câmera fotográfica portável de Eastman, o automóvel de Ford, o sistema operacional de Gates, os iPods de Jobs, a revista que coloca vulvas à mostra de Flint. Os Japoneses desde o século XIX vivem de mimetizar os americanos, melhoram o invento, passam a competir e suplantam as empresas norte-americanas. Mas o maior pólo irradiador de todas as inovações humanas jamais deixou de ser os Estados Unidos da América. Vetaram os Napoleões da política e incentivaram a proliferação dos Napoleões da tecnologia, da indústria e do entretenimento.

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