Leio que
filosofia não é auto ajuda. Penso, porém, que se ela não é auto-ajuda, no nível
mais alto possível, muito acima do que se chama de auto ajuda no mercado
editorial, então ela é aquilo que o homem comum, desinteressado dela, pensa que
ela é: algo inútil, mero hobbie, passatempo de nerd.
Entendo que
o homem, além de sofrer por razões de saúde ou financeiras, pode sofrer com
suas dúvidas existenciais (com o perdão do clichê), religiosas, metafísicas,
etc. A Filosofia, sempre pensei, serve para aplacar estas dúvidas, essa
angústia de não saber, muito embora na maioria das vezes não chegue a resultado
algum.
Neste
sentido ela é auto ajuda, num nível superior. Penso também que ela só é
interessante se estas dúvidas partem da realidade concreta do sujeito ou da
sociedade. Escritos sobre temas meramente abstratos como “a batalha naval
amanhã”, o paradoxo do padeiro, etc. são meros quebra-cabeças para a fruição,
semelhante a qualquer atividade lúdica.
Já a pesquisa
mais séria que se faz nas nossas universidades, por sua vez, é do tipo “Epokhe e Linguagem no Ceticismo Pirrônico”,
“O Nominalismo no Diálogo Crátilo de
Platão” e versam sobre a real interpretação de uma frase num livro de
Platão ou Descartes e não vão além disto. O escopo é muito pequeno e só tem
interesse filológico ou histórico. Que tem a dizer sobre a nossa vida concreta
aqui e agora? Nada. Serve pra quê? Não serve nem pra diversão porque a “língua
de pau” própria destes estudos e os assuntos são chatísssimos. É melhor ler os
fogos de artifício das cigarras mágicas.
Mas para
não dizer que é uma completa inutilidade que descontentaria imensamente o
contribuinte por financiá-la através da Capes, do Cnpq, da Fapesp (por sorte o
contrubuinte não faz a menor ideia do que estes pesquisadores estão fazendo com
o seu dinheiro, pois estes trabalhos só circulam dentro do grupo), digamos que
ela serve subsídio a estudos mais sérios. Serve, por exemplo, para que um
filósofo de verdade quando estiver discorrendo sobre um assunto de interesse
existencial concreto e abrangente, e queira se valer da opnião de um filósofo
do passado para robustecer sua argumentação, consulte um autor de filigranas
filológicas para saber se a citação é exata. Um trabalho de filigrana
filológica ou histórica assim é mera peça para um trabalho maior. Um filósofo da
estirpe de Olavo de Carvalho é como uma montadora de automóveis (não discuto a
qualidade dos carros) outro como Zingano e seus discípulo são meros
fornecedores de pequenas peças. Por isso o público em geral prefere filósofos da
espécie de Olavo de Carvalho: o produto tem alguma utilidade concreta.
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