(Trechos da Obra Abortada de Pseudo Paulo Coelho)
Filósofo do
Rigor.
“Um precoce filósofo, por volta dos 30 anos,
decidiu por em suspensão suas dúvidas angustiantes sobre questões sobre a
natureza do bem e do mal, a existência de um ser supremo criador do universo, a
possibilidade do conhecimento objetivo, e a consistência ontológica dos
conceitos universais.
Compreendeu que era vão especular sobre isso sem
conhecer a opinião dos grandes vultos do pensamento filosófico que o precederam
na História da Humanidade. Passou então os 20 anos seguintes a estudar as
divagações de Platão, Aristóteles, Plotino, Aquino, Descartes, Kant, Hegel e
Husserl sobre os temas até que, aos 40 anos, se deu conta de que não podia
saber ao certo a opinião que estes filósofos tinham tido sobre as grandes
questões filosóficas da humanidade sem primeiro tornar claro, exato e
indubitável o que eles tinham dito a respeito destes grandes temas.
Mergulhou então nos estudos filológicos e
crítico-históricos. Só em cima de um único livro, “A Metafísica”, de
Aristóteles, passou 05 anos numa rigorosa averiguação dos volumes de Bekker,
Bonitz, Shwegler, Chist, Ross e Jaeger, dos comentadores gregos da antiguidade,
dos comentadores escolásticos, e dos comentadores modernos, continentais e
anglo-saxões. Debruçou-se também sobre a maravilhosa biblioteca de estudos
críticos sobre estes estudos. E sobre a fabulosa sub-biblioteca dos estudos
críticos sobre os estudos críticos. E sobre... Como num jogo de espelhos.
Quando
terminou os estudos, sem chegar a grandes conclusões, descobriu que lhe
escaparam novas especulações sobre a Metafísica de Aristóteles que vinham sendo
desenvolvidas em Princeton, Cambridge, Munique, Bristol, Praga, Stanford,
Estrasburgo e São José dos Campos. Bem como sobre a revisão crítica destes
novos enfoques. Passou então mais 5 anos a incorporar os novos estudos.
Prosseguiu nos estudos filológicos e
crítico-históricos até os 65 anos quando descobriu que jamais se poderia falar
sobre a verdadeira doutrina de Aristóteles ou a verdadeira doutrina de Platão,
pois tudo o que havia era interpretações filológicas eternamente sujeitas a
novas versões.
No ano seguinte, o filósofo morreu de câncer na
laringe (tinha o hábito de fumar durante os estudos, embora nunca tivesse
chegado a uma conclusão sobre se o cigarro era ou não de fato causa de
neoplasias: não tinha percorrido nem um centésimo de toda a bibliografia
científica sobre o assunto) e nada soube em sua vida sobre a verdade ou sobre o
que os grandes vultos do passado haviam pensado a respeito dela, e nada mais
disse nem lhe foi perguntado.
Morreu anônimo, sem nada publicar.”
Triste
Notícia para Um Homem Já Tão Velho.
“Um navegador chinês passou
a vida inteira a navegar pelo Oceano Pacífico quando, aos 80 anos, acreditando
que conhecera todos os contornos do ‘universo’ navegável vieram lhe contar que
ainda havia mais oceanos para navegar. Sem titubear, respondeu: estes, se
existem, não são dignos de navegação.”
A
Última Piada de Graham Chapman.
“O Japão era o Cavaleiro
Negro da Segunda Grande Guerra.”
Decepção Evangélica.
“Quando olhou pela fresta da
porta e viu o que os dois pastores faziam teve uma das revelações mais
decepcionantes de sua vida: seus guias espirituais não estavam cheios do
Espírito Santo, mas sim, cheios de anfetamina. Era dela que extraíam o fervor e
a loquacidade hipnótica. A glossolalia vinha quando a inibição da recaptação de
dopamina atingia o pico em seus encéfalos pentecostais.”
Crise
Sacrificial.
“Não remássemos noite adentro pelos túneis aquáticos de Veneza,
o arlequim não nos teria conduzido até aquela cidade nordestina de Santana da
Casamata. Fazia calor e os foliões cangaceiros da Pedra do Reino estavam
inebriados com a luz das estrelas e as coruscantes emanações da lua. Preparavam
um ritual macabro e eu não sabia. Só aguardavam a chegada da ave de prata
montada pelo Pequeno Príncipe redivivo. Jezebel seria mais uma vez sacrificada
no altar da maldade em honra de Behemot, numa crise sacrificial girardiana.
Acaso não era Dr. Hilarius, no auge de sua insânia, edição esgotada do “Rei de
Amarelo” nas mãos, quem conduzia o festim? Creio que era, pois desde 1.980,
jamais se teve notícia do temível psiquiatra de São Francisco, o mesmo que
conduzira o projeto do círculo mais liberal da SS para tornar os judeus
catatônicos, em vez de matá-los. Eu suava a cântaros e ouvia sem paciência
Sherazade me contar de novo a mesma história pela milésima primeira vez. Deus,
como pode se divertir contando histórias quando mais um inocente será
sacrificado pela adaga eterna de Isaacaron? Somente o Capitão Willard teria
sangue acabar com aquele forrobodó macabro. Mas desde que se embrenhou nas
matas do Camboja em busca do Coronel Brando, jamais se teve notícia sua. Que
faremos? Só nos resta aguardar a vinda do Cordeiro, aquele que abole a crise
sacrificial e desimanentiza o schaton.”
O Mais Belo Diálogo Jamais
Escrito
“ - Deus fez o mundo de tal
forma que, mesmo se abstrairmos mentalmente a sua existência, a vida continua a
fazer sentido.”
-Então você acredita em Deus?
- Não creio, nem deixo de
crer, mas também não sei. Contudo, se ele existe, fez o mundo, e o fez assim
tal como eu disse, pois o mundo é assim, infinito de sentido, e é o único mundo
que há.”
– Lindo!”
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