quarta-feira, 8 de agosto de 2007

BREVE ENSAIO SOBRE OS DEMÔNIOS


Impossível não ler esta obra profética e alucinante do maior romancista de todos os tempos e não ceder à tentação de deitar no papel todas as impressões e possibilidades de interpretações que ela nos sugere, por mais que já se tenha escrito sobre ela. Aqui me atrevo a falar desta obra, tentando dissecar cada um dos demônios que ela encerra. Começo pelo que primeiro faz a sua aparição, logo no primeiro capítulo, o patético Estevão Trofimovitch Verkovenski, demônio pai do demônio maior da obra.

ESTEVÃO TROFIMOVITCH VERKOVENSKI se tivesse vivido de verdade (e custo a acreditar que os personagens de Dostoievski não eram pessoas de verdade, tamanha a verossimilhança) ele seria certamente o Rousseau [1]fracassado da Rússia. Sua vida inteira foi um monumental fracasso, faz lembrar o finado Braz Cubas. Fez alguma fama na Europa como intelectual liberal na primeira metade do século XIX, mas depois foi esquecido de todos. Voltou para a Rússia onde se tornou preceptor do filho de uma senhora da nobreza russa, Bárbara Petrovna. Seu ego inflamado o fazia crer que era maior do que sua própria realidade, por isso se julgava um eterno incompreendido e um injustiçado. Bárbara é a sua protetora e lhe tinha amor, mas este só é revelado nos momentos finais da obra, quando o velho Verkovenski tinha seus estertores. Mas Estevão, que julgava ser o grande intelectual russo, não compôs nenhuma obra importante, e não influiu em nada nos acontecimentos políticos. Na maturidade, perdeu o bonde da história do movimento revolucionário. Ele e Bárbara vão à São Petersburgo desejosos de participar da agitação cultural e política russa. Se metem num grêmio de intelectuais proguessistas, mas lá o velho Estevão é ridicularizado. É um grupo de intelectuais e beletristas sem estratégia política e com objetivos ainda obscuros. Assemelha-se ao grupo de Petrachevski do qual Dostoievski fez parte no final da década de 1940. Sobre este grupo de Petrachevski escreveu um biógrafo de Dostoivski:

“Que se passa nesse círculo de revolucionários? Verdadeiramente nada de importante: alguns rapazes reúnem-se em volta de Petrachevski; fumando e bebendo chá, falam de literatura, de política; criticam o regime, censuram o estado deplorável dos camponeses, da economia, da sociedade de maneira geral. Nenhum programa definido, nenhum plano de ação.”

Mas logo, um elemento novo se imiscui no grupo:

“Mais tarde surge no grupo um novo elemento, um tal Spiechniov, indivíduo estranho que acabará por fazer decidir Dotoievski a passar das palavras à ação. Ele próprio é partidário da ação, ainda que tenham que recorrer a meios violentos.”

Spiechniov pertence a uma nova geração, já marxista e revolucionária, com planos concretos de ação. No romance, corresponde a geração de Pedro Verkovenski que sucede a de Estevão.

Estevão é a personificação do romantismo, do liberalismo, do nacionalismo e do “socialismo não-científico”. Mas a nova geração já tinha aderido a uma nova etapa do movimento revolucionário. È uma geração mais linha dura, mais cruel e mais realista quanto às estratégias de tomar o poder. Já é o tempo do marxismo. “Estava-se numa época estranha. Nascera qualquer coisa que em nada se parecia com o passado tão calmo, qualquer coisa na verdade muito esquisita, mas se sentia por toda a parte, até mesmo em Skvorechniki”, assim comenta o narrador sobre aquele novo tempo. Nele as idéias tresloucadas e ainda confusas dos literatos russos começam a ganhar realismo e a se transformar em estratégia política. Marx absorveu todo o legado do Iluminismo, de Rousseau, e dos socialistas utópicos e jogou os seus antepassados intelectuais na lata de lixo. Já não precisava mais daquilo tudo, porque ele era a grande Síntese de todo o passado. Construíra seu monstruoso sistema com o que havia de prestável nos antecessores. Rousseau, Hegel, Proudhon, Saint Simon, Fourrier, Owen, Feuerbach, Stirner e em todos os outros liberais e socialistas de antanho estavam superados. Marx tratou de condenar um a um e de afirmar que superava a todos. Da mesma forma os novos revolucionários russos desprezam o velho Estevão Verkovenki. O mesmo desprezo que seu filho demonstrará mais tarde. [2]

Estevão Trofimovitch é o personagem de Dostoievski que mais parece confirmar a tese de Mário Vieira de Melo sobre o esteticismo. O belo é tudo o que lhe interessa. É um Rousseau eslavo porque tal como o genebrino mente o tempo todo para embelezar a sua própria vida, para torná-la mais fascinante, aventureira, sacrificando a realidade e a própria consciência. “Menti-lhe há pouco, por completo, por vaidade, por futilidade para tornar as coisas mais belas. De ponta a ponta, até a última palavra! Que miserável!” , confessa Estevão no leito de morte a uma mulher do povo a quem a pouco contara uma fantástica e fantasiosa história sobre a sua vida. O belo é tudo o que lhe interessa. Na festa literária de Júlia Mihailovna, que antecede as grandes desgraças do livro, sobe no palco para dizer que o problema da nova geração de revolucionários é a falta do valor do Belo:

“Sabem, sabem muito bem que a humanidade pode viver sem os ingleses, pode viver igualmente sem os alemães, sem os russos ainda melhor, pode viver sem a ciência, sem o pão; mas sem a beleza isto é impossível, porque então nada mais haveria, nada mais, a fazer neste mundo! Eis todo segredo, toda a história! A própria ciência não resistiria um minuto sem a beleza, saibam-no os que riem: transformar-se-ia numa coisa grotesca, não seria capaz sequer de inventar um simples prego! Nunca cederei! – gritou de forma absurda e à maneira de conclusão, batendo com toda a força com o punho na mesa.”

Como se vê acima, o Princípio do Belo está acima de tudo para Estevão. Mas a autonomização do Princípio Estético e sua sobreposição sobre o Princípio Ético e sobre o Princípio de Verdade trazem conseqüências nefastas, nos advertida o tão esquecido Mário Vieira de Melo. Dedicando-se a vida toda ao Belo, Estevão se esquece da verdade e de seus deveres morais. É desta forma que gera o demônio Verkovenski e foi desta forma que gerou o demônio-causa-eficiente das desgraças do livro, FEDKA. A sua patética aparição na festa literária é interrompida pela voz da verdade de um cínico estudante revolucionário:

“- Estevão Trofimovitch! – bradou alegremente o estudante – Fedka, um presidiário evadido, anda neste momento ai pela cidade e pelos arredores. Ele rouba e, ainda há pouco, cometeu um novo assassínio. Deixe-me então perguntar-lhe: se há quinze anos, não o tivesse vendido como recruta para pagar uma dívida de jogo, ou seja, mais simplesmente, se não o tivesse perdido às cartas, diga-me: ele teria sido condenado a trabalhos forçados? Mataria pessoas como faz agora, na sua luta pela existência? Que me diz a isto, senhor esteta?"

“Que me diz a isto, senhor esteta?” A mesma pergunta caberia fazer a Rousseau se ele tivesse vivido para ver o terror jacobino.

Mas a mentira essencial de sua vida não resiste ao horror da iminência da morte. Não é possível mentir neste momento, não é possível enganar a indesejada das gentes. Pela primeira vez na vida, Estevão, o mentiroso esteta, é assaltado pela verdade que salta à sua consciência e desta para fora através de sua boca:

“- Menti, minha amiga, toda a vida. Até quando dizia a verdade. Nunca falei para dizer a verdade, mas só para mim. Eu já o sabia, mas só agora o vejo... Oh! Onde estão os amigos que eu ofendi toda a vida? E todos, todos! Savez vous, eu minto talvez também agora, eu minto com certeza também neste momento. O pior é que acredito em mim próprio quando minto. O mais difícil na vida é viver e não mentir... e... e não acreditar nas suas mentiras. Sim, é isso mesmo! Mas, espere, falemos disto tudo mais tarde... Estamos juntos, juntos! – acrescentou com entusiasmo.”

Sua morte é comovente. Em seus últimos momentos de consciência parece redescobrir o Deus que negara a vida toda. “Deus é-me indispensável, quanto mais não seja porque é o único ser a quem se pode amar eternamente.” “A minha imortalidade é indispensável, pois Deus não há-de querer cometer uma injustiça e apagar para sempre a chama do amor por Ele que se acendeu no meu coração.” “Só a idéia eterna de que há qualquer coisa de infinitamente mais justo e feliz do que eu me enche por completo de uma ternura sem limites e de glória! Seja eu quem for, seja o que tenha feito! Muito mais do que a sua própria felicidade, é necessário ao homem saber e acreditar em cada momento que há em qualquer parte uma felicidade perfeita e calma para tudo e para todos. A lei da existência humana consiste em que o homem pode sempre inclinar-se perante o infinitamente grande.”

Embora sejam belas as suas últimas palavras, não é a mentira esteticista que fala, mas a verdade de um aflito em busca de alívio que enfrenta pela primeira vez a sua “lição de trevas” e quer salvar a sua alma nestes últimos instantes.

Estevão Verkovensi morre aceitando a mais terrível das verdades: que em toda a sua vida nunca fora nada, que fora apenas um miserável. Mas a sua irresponsabilidade esteticista deixou frutos perniciosos. O pior deles, Pedro Stepanovitch Verkovenski, filho que não criou e que só vira em dois momentos até que fizesse a sua aparição fatal, o demônio maior do romance, o autor de todas as desgraças que se abateram sobre a província em que se passa a trama. Mas antes de falar dele, é preciso falar do outro grande demônio da obra, inspirador de Verkovenski, motivo de seu desejo mimético, o contraditório e inexplicável Nicolau Vsevolodovitch Stavroguine.

NICOLAU VSEVOLODOVITCH STAVROGUINE é Hamlet reencarnado na Rússia do século XIX. Tal como o doidivanas da Dinamarca é um aristocrata cuja maior marca é a lucidez imperturbável, uma lucidez e uma consciência terríveis, mesmo da própria sordidez. O crítico norte-americano Harold Bloom afirma que o príncipe Hamlet é um “herói da consciência.” Mas um herói da consciência e de mais nada. Não é um homem virtuoso, é ambicioso, cruel, vingativo, libidinoso. Mata Polônio sem o menor escrúpulo e acaba causando a morte de Ofélia sem demonstrar remorsos. Mas é a consciência mais viva e alerta do podre reino da Dinamarca de cuja podridão participa. Não busca racionalizar nem justificar seus próprios vícios e reside aí o seu heroísmo.

Também Stavroguine é de uma lucidez inabalável. Só ele e Verkovenski sabiam de todos os planos para aterrorizar a província. O romance termina com os seguintes períodos:

“(...) Tudo aquilo indicava claramente a premeditação e que Stavroguine conservara a plena lucidez até os últimos instantes.
Após a autópsia do corpo, os nossos médicos puseram formalmente e unanememente de lado a hipótese de alienação mental.”

E em sua última carta confessa: “Nunca poderei perder a razão...”

Tal como Hamlet tem também a sua Ofélia na inocente e bela Lisa, uma jovem da nobreza russa a quem não podia amar, como Hamlet não amava Ofélia. É como Hamlet o causador indireto de sua morte. No dia da festa e do grande incêndio, Isabel chega a casa de Stavroguine a quem ama levada por Verkovenski. Tem a ingênua esperança de que o demônio aristocrata a queira bem, esperança alimentada pela astúcia de Verkovenski. Stavroguine vê em Lisa um fio de esperança, o vislumbre de uma possibilidade de redenção:

“tinha uma esperança... há muito... Era a última... Não pude resistir à luz que me iluminou o coração quando ontem entraste em minha casa só por tua vontade... Acreditei de súbito... Pode ser que ainda agora creira...”

Mas Svroguine estraga tudo ao não poder resistir aos ditames de sua natureza demoníaca: “Sabia que não te amava e perdi-te.” Sim, Svroguine aproveitou-se da ingenuidade de Lisa e a desvirginou (ou o que mais poderia significar o “perdi-te”), sem a amar. Sem saber, estaria levando Lisa naquele momento à morte, morte que ela antevê como inevitável. Ao sair do palácio de Stavroguine com o impotente Mavriki Nicolaevitch que a ama, acaba por dar no meio da cenário convulso do grande incêndio. A população histérica está em busca de um bode expiatório e o encontra em Lisa. Matam-na porque acreditam que Nicolau é o causador do incêndio[3] e ela cúmplice. Aqui não há como não lembrar René Girard: o incêndio é um símbolo da crise sacrificial e Lisa o bode expiatório que surge para extingui-lo e restabelecer uma paz temporária.[4]

Ao que me parece, Stavroguine é demoníaco por natureza, e Verkovenski por emulação, porque este tinha naquele o objeto de seu desejo mimético, como pretendemos demonstrar mais adiante. O mal é uma força bruta que está embutida em suas próprias entranhas. “Posso ainda, como sempre pude, querer fazer o bem como fazer o mal e sinto nisso prazer”, declara em sua última carta. Nos primeiros capítulos do livro, quando é ainda um adolescente, o impulso para causar o mal se apresenta nele como uma força espontânea e irresistível. Há um episódio em que um homem diz que não faria tal coisa nem que o puxassem pelo nariz, pois eis que Stavroguine, no meio de uma reunião da alta sociedade, arremete contra o homem, mete-lhe a mão no nariz e o arrasta fazendo dar três passos pela sala. Pouco depois, em uma reunião em casa de Liputine (outro demônio menor da obra), aos olhos de todos, atraído pela beleza da filha do anfitrião, salta sobre ela e tasca-lhe três beijos na boca, para o escândalo de todos. Por fim, no gabinete do governador, o palerma João Ossipovit, onde deveria pedir desculpas pelos incidentes, pede o ouvido do mesmo para dizer uma confidência e lasca-lhe uma mordida na orelha que lha trinca.

Mas Stavroguine adulto é também um homem torturado pela consciência. Diz a verdade o tempo todo. Não tem medo de desmentir Verkovenski na frente de Lisa e confessar que, por omissão, foi responsável pelo assassinato de Maria Timofeevna e de sua família: “Não matei, opus-me até. Mas sabia que seriam assassinados e não sustive a mão dos criminosos.”

Stavroguine parece viver entre a luz e as trevas. Sabe do mal que causa, mas não consegue contê-lo. Às vezes se esforça para evitar fazer o mal, como no duelo quando, por três vezes, tem a chance de matar o adversário, mas atira para o alto, ou quando resiste a retaliar a agressão que Chatov lhe faz. Ou ainda quando revela à sociedade, na casa da mulher do governador da província, a verdade sobre o seu caso com Maria Timofeevna: como Hamlet não contém seus impulsos sádicos, mas não contém o impulso de dizer a verdade. Buscava a redenção. Na sua última tentativa, convoca Daria Pavlovina, irmã de Chatov (personagem importante de quem falaremos adiante) para viver com ele na Suíça em uma vida tranqüila entre as montanhas. Mas desiste da sua última tentativa de redenção. Volta a sua casa e enforaca-se, ato final do romance.

Por que Stavroguine, embora sendo a consciência mais poderosa do romance, não consegue, e às vezes não quer mesmo, conter os seus impulsos satânicos? Talvez a resposta tenha sido dada pelo demônio Kirilov, obscura personagem do livro. Mais a diante falaremos deste personagem que em seu diálogo final com Verkovenski traz talvez a chave para a compreensão da fúria dos demônios. E a explicação, já me adianto, é a incapacidade que ambos, Kirilov e Svroguine, têm de acreditar em Deus. Saltemos agora para o demônio maior do romance.

PEDRO STEPANOVITCH VERKOVENSKI, na História russa, encontra seu protótipo no jovem Netchaiev, autor junto com Bakunine do “Catecismo Revolucionário”. Segundo Edmund Wilson, Netchaiev era “um rapaz de vinte e um anos, enérgico, decidido e virulento, o tipo do conspirador perfeito, dotado daquele “diable au corps”[5] Esta breve descrição do grande historiador americano pode ser transposta perfeitamente para Verkovenski. Tal como Verkovenki trama o assassinato de um de seus companheiros, Ivanov, e foge do país. Tal como o filho de Estevão, Netchaiev vive sonhando com sociedades secretas e mentia sistematicamente sobre o tamanho e alcance da organização.[6] Exatamente como Pedro Verkovenski.

Verkovenski chega à província onde se passa a história e forma uma célula revolucionária que faria parte de uma vasta organização espalhada por todo o território russo. Da célula fazem parte Chigaliev, Liamchine, Virguinski, Liputine e Tolkatchenko. Mais tarde surge Erkel, jovem militar que segue a Verkovenski com um amor louco, como se fosse o seu Deus pessoal.

Mas nenhum destes demônios arregimentados tem certeza da existência desta organização misteriosa que, diz-se, estaria ligada à Internacional Comunista. O objetivo de cada célula era de abalar os alicerces da sociedade, instaurando o terror através de atentados.Instaurariam a confusão universal e depois se apresentariam como a salvação, tomando o poder. É evidente que Verkovenski mentia sobre o alcance e tamanho da organização. É duvidosa mesmo a existência dela. Como Verkovenski é o mais hábil mentiroso da História da Literatura Universal, só encontrando par em Iago, é óbvio que ele mentia sobre estas tais células espalhadas por todo território russo. Verkovenski enganou a todos, inclusive a seus companheiros. Só não enganou, como dissemos, à consciência mais desperta do romance, Stavroguine.

Nem Liputine está convencido da existência da organização. Após o grande incêndio e logo após o sacrifício de Chatov indaga a Pedro Verkovenski:

“- Responda-me sem mentir. Constituímos uma célula única, ou é verdade que há muitas centenas delas? Pergunto-lhe isto, com a mais elevada intenção, Pedro Stepanovitch.”

Pedro responde com o seu cinismo e o diálogo prossegue:

“- Bem o vejo. Sabe, Liputine, que é mais perigoso do que Liamchine?
- Sei, sei, mas responda-me!
- Como é estúpido! Parece-me que lhe disse agora ser indiferente que houvesse uma célula, ou mil.
- Quer dizer que há só uma! Bem o sabia eu! – exclamou Liputine. – Sempre soube que havia só uma, até hoje...”

É óbvio que Verkovenski é Netchaiev, mas é também o Raskolnikov realizado. Todos aqueles que se decepcionaram com a conversão de Raskolnikov no final de “Crime e Castigo” deveriam ler “Os Demônios” para se deliciarem com Verkovenski, que não demonstra remorsos em nenhum momento, não tem as febres e crises nervosas daquele, não busca redenção e não acaba preso no final. Verkovenski é o único dos demônios que sai ileso no fim. É o mal triunfante. Raskolnikovs no romance são Virguinski e Liamchine. Este último se arrepende e acaba por contar toda a história para a polícia.

No futuro, Verkovenski reviverá em Lênin e em Stálin, todos eles conspiradores vitoriosos como Verkovenski. Mas ele está mais para Stálin que para Lênin, pois não é um intelecutal, é um animal cheio de vontade de poder e com astúcia bastante para alcançá-lo. Tal como Stálin quer que a teoria se dane. E manda o louco da idéia, Chigaliev, se danar.

Um parênteses para falar deste demônio. CHIGALIEV é, como disse, um louco que vive no “mundo como idéia”. Na hora da execução de Chatov abandona a cena, ocultando a sua covardia sob o manto diáfano de suas desculpas ideológicas. Um dos capítulos mais fascinantes da obra é aquele em que Verkovenski reúne toda a legião dos demônios para uma reunião em que pretende firmar o compromisso com todos para que sejam fiéis aos seus planos revolucionários, custe o que custar. A reunião começa com uma discussão confusa e no meio dela eis que surge Chigaliev, o Fourier russo, mas muito maior que Fourier, para apresentar o seu plano para o futuro da humanidade, o mais perfeito de todos, o infalível, o supremamente imprescindível, sem o qual a Humanidade não terá outra salvação. Todos estavam errados antes dele:

“-Tenho consagrado todo o meu entusiasmo ao estudo da organização social da sociedade futura que substituirá o estado de coisas atual e cheguei à convicção de que todos os construtores de sistemas sociais, desde os tempos mais recuados até este ano de 187... não passavam de sonhadores, de autores de contos de fadas, tolos que se contradizem a si próprios, nada percebiam da ciência natural nem deste estranho animal a que se dá o nome de homem.”

(...)

“Sim, cheguei de facto a desesperar; no entanto, tudo o que exponho no meu livro não pode ser substituído e não há outra solução; ninuguém a encontrará (...)”

É o supra-sumo da megalomania alucinante. É um Marx kitsch. E que vem a ser este sistema perfeito? Nada mais que Totalitarismo! Em poucas linhas o profético Dostoievski descreve o fenômeno que marcará o século XX pela boca de um “professor coxo”, adulador de Chigaliev:

“ Conheça o livro dele. Propõe, a título de solução definitiva do problema, que a humanidade seja dividida em duas partes desiguais. Um décimo obterá a liberdade individual e direitos ilimitados sobre nove décimos restantes. Estes perderão a sua individualidade e passarão a formar uma espécie de rebanho, devendo alcançar, graças a uma obediência absoluta e através de uma série de transformações, a inocência primitiva, qualquer coisa como o paraíso primitivo, embora tenham sempre que trabalhar. As medidas que o autor preconiza para extirpar a vontade a esses nove décimos da humanidade, para os converter num rebanho por meio da reeducação de gerações inteiras, são notáveis, baseadas em dados naturais e extremamente lógicas. Podemos não perfilhar algumas das suas conclusões, mas é difícil por em dúvida a inteligência e o saber do autor. Pena é que a cláusula das dez sessões seja praticamente incompatível com as circunstâncias, porque, se assim não fosse, poderíamos ouvir coisas muito curiosas.”

Este trecho deveria ser usado nas escolas, pois explica da forma mais clara possível a verdadeira natureza do “socialismo científico’ ( “as medidas ... são notáveis, baseadas em dados naturais e extremamente lógicas”) e da “ditadura do proletariado” (“um décimo obterá a liberdade individual e direitos ilimitados sobre nove décimos restantes”). Nem o próprio Marx auxiliado por mil sociólogos da USP poderia explicá-los de forma mais clara.

Mas deixemos o doente da idéia de lado, voltemos a Verkovenski. Como dizíamos, não é intelectual, despreza mesmo as idéias. Após a exposição de Chigaliev, interrompe a discussão e diz:

“(...) Em minha opinião, todos estes livros, Fourier, Cabet, todos estes “direitos ao trabalho”, o chigalevismo, tudo isto é como os romances que se podem escrever às dezenas, as centenas de milhar. Um passtempo estético. Compreendo que se aborreçam aqui neste buraco e que se atirem, por isso, ao papel impresso.”

Não quer discutir idéias, quer apenas garantir o compromisso de todos com a misteriosa “causa comum” e com as maquinações que ele ainda não revela. Quer garantir que, aconteça o que acontecer, ninguém dará com a língua nos dentes.

Tudo o que no fundo Verkovenski quer é a destruição universal e obter o poder. Não tem ideais, nem objetivos muito claros. Não sabe o alcance desta destruição e deste poder. “- É então verdade que não é um socialista mas... um político ambicioso?”, pergunta-lhe Stavroguine logo após a reunião, e a resposta parece-nos por demais óbvia.

As idéias de Verkovenski são demasiado confusas, chega a dizer que pretende meter o Papa na sua revolução. Aqui está uma ironia do anti-catolicismo de Dostoievski, que vê no Sumo Pontífice da Igreja Romana um cesariocrata. Verkovenski não sabe aonde quer chegar, só sabe que quer destruir tudo e por algo novo no lugar. Quer ser o artífice do Apocalipse. O que virá depois será o mistério do novo céu e da nova terra. Tão misterioso quanto o mistério do desaparecimento do Estado na teoria de Lênin, exposta em “O Estado e a Revolução.” Mas Verkovenski sabe quem reinará nesta Nova Jerusalém: Stavroguine, o niilista perfeito, o seu Deus pessoal:

“(...) Quer saber o que sou? Vou dizer-lho, foi por alguma coisa que lhe beijei a mão. Mas é preciso que o povo também acredite que nós sabemos o que queremos (revela que não sabe aonde quer chegar, mas que precisa dar a impressão de que sabe, nota minha) e que os outros não fazem mais do que “erguer o cacete e bater neles”. Proclamaremos a destruição... porque, porque, uma vez mais, esta idéia é bem sedutora! Mas é preciso desentorpecer os membros... Atearemos incêndios... Forjaremos lendas... Arranjar-lhe-ei, nesse mesmos grupos, voluntários que marcharão a cada voz de tiro e que ficarão honrados por o fazerem. O mundo vai vacilar como nunca... A Rússia ficará às escuras, a Terra chorará os seus antigos deuses (meu Deus, é o Apocalipse!) E nessa altura nós proclamaremos... Quem?
- Quem?
- O czarevitch João. O príncipe João!
- Quem?
- O czarevitch João; você, você!
–diz dirigindo-se a Stavroguine.

Por que caberia tanta honra a Stavroguine? Porque Verkovenski o idolatra como um Deus. Diz de Stavroguine: “é belo, altivo como um deus.” Stavroguine é o objeto do desejo mimético de Verkovenski. É nele que o revolucionário busca força e inspiração para os seus planos de destruição. É a matéria bruta do niilismo de Stavroguine que inspira o niilismo revolucionário de Verkovenski. Ivan Karamazov com o seu ateísmo inspira Smierdiakov a matar. Sua lição é que é preciso desconsiderar a existência de Deus para que o homem se sinta livre para pôr em prática todas as suas vontades e desejos. Sem Deus, ele pode tudo, pois ele é a máxima vontade no universo, a máxima inteligência. Sem Deus, ele torna-se Deus, dirá Kirilov.

KIRILOV é um jovem que vive com Chatov em precárias condições em uma espécie de pensão onde também viveu Maria Timofeevna, a mulher enlouquecida de Stavroguine, e o irmão dela, um militar alcoólatra. Tal como Chatov fez parte do movimento revolucionário do qual também fazem parte Verkovenski e os demais demônios menores. Ambos abandonaram o movimento, Chatov porque não crê mais nas idéias revolucionárias, percebeu o satanismo que subjaz a elas e pulou fora do barco, tornando-se um reacionário defensor das instituições e da cultura russas. Kirilov porque é um niilista, não acredita em nada. Kirilov passa as noites em claro, caminhando de um lado para o outro em sua alcova, imerso em seus pensamentos niilistas e planejando seu suicídio, a sua grande meta na vida. Por outro lado se mostra um homem extremamente generoso. Toda a sua generosidade transborda num dos capítulos mais belos da obra, o do nascimento do filho de Chatov. Faço aqui um pequeno desvio para falar deste episódio e de desta personagem importante na obra, o demônio arrependido Chatov.

A mulher de CHATOV chega inesperadamente à sua casa, depois de três anos separados. Traz consigo um filho que está para nascer. Chatov que há muito vivia em permanente aborrecimento e desencanto tem seu coração iluminado por uma nova luz. A sua felicidade ao receber a mulher de volta é quase patética. Quando descobre que a mesma está para ter um filho, esta felicidade se multiplica. Sai desesperado em busca de uma parteira, a mulher de Virguinski, também revolucionária e quando o filho que nem é seu, mas que já ali decide adotar, nasce, declara com uma efusiva emoção:

“- Oh! Que pena que não compreenda, Arina Prokovna. É todo o mistério da aparição de um novo ser, o grande e inexplicável mistério!”

Mas a parteira, materialista, está disposta a jogar um balde de água fria em seu entusiasmo quase pueril:

“-Basta de conversa! Não há aí qualquer mistério. É apenas um novo desenvolvimento do organismo – disse Arina Prokovna, rindo às gargalhadas, alegre e sinceramene – Por esse caminho, qualquer mosca é um mistério.”

Dostoievski era um homem bem informado de todas as correntes de pensamento de seu tempo. Aqui ele põe na voz de Arina Prokovna o materialismo do século XX com sua negação do mistério e da transcendência, em suas inúmeras vertentes: o positivismo, o darwinismo, as teorias de Spencer, Haeckel, Taine, etc. Certamente, todas elas repugnavam a Dostoievski, e ele preferiria ficar com Chatov, ainda que Arina provasse que ele estava errado, assim como dizia preferia ficar com Cristo, ainda que lhe provassem que o nazareno era uma mentira.

O nascimento está situado entre os desastres do incêndio e a execução de Chatov. É uma pequena ilha de esperança e paz no meio do cataclisma satânico que varre a pequena província. Mas logo vem a execução de Chatov, e a morte de sua mulher e da criança. O nascimento de uma criança no meio de uma era de opressão e desespero, trazendo um novo sopro de esperança aos que o contemplam, nos remete obviamente ao nascimento de Cristo. O capítulo foi colocado ali porque simboliza, na intenção de Dostoievski, que a salvação para todas aquelas desgraças e para as desgraças que ele prevê para a Rússia, e que de fato vieram a ocorrer com a Revolução de 1917, estava no Cristianismo.

É sabido de todos que Dostoievski professava um Cristianismo particular, um Cristianismo russo, oposto ao da Igreja Católica e que só este Cristianismo poderia salvar o mundo. Acreditava num papel messiânico a ser desempenhado pela Rússia, só ela poderia salvar o mundo. Chatov compartilha desta mesma crença. Vive dizendo que os revolucionários nada conhecem da Rússia e que fora este o motivo porque os abandonou. Perguntado por Stavroguine se cria em Deus, responde que crê na Rússia.

Eric Voegelin vê nesta idéia do messianismo russo esposada por Dostoievski um fruto do gnosticismo, o mesmo gnosticismo que teria inspirado os revolucionários, o positivismo, o comunismo e o nazismo. Ironia macabra do destino, o messianismo que a Rússia desempenharia no século XX seria o messianismo do Anti-Cristo.

Tornemos a Kirilov. Após a célula dos cinco revolucionários atrair Chatov para o seu sacrifício, Verkovenski vai ter com Kirilov. Como sabe que ele vai se matar e que é um niilista, para quem tudo tanto faz, havia pedido a ele que escrevesse uma carta onde confessaria ter matado Chatov. Vai lá para confirmar que ele o fará. Antes do suicídio, uma das cenas mais chocantes do romance, o neurastênico niilista e o astuto revolucionário têm um diálogo que é a chave para a compreensão do romance.

A idéia de Kirilov pode assim ser resumida. É absolutamente imprescindível que Deus exista, “mas eu sei que não existe e que não pode existir”, diz ele. Verkovenski o ouve com curiosidade, embora esteja mais interessado em que ele escreva logo a carta e se mate. “Se Deus existe, toda vontade é Sua, e eu não posso fugir a ela. Se não existe, toda vontade é minha e tenho a obrigação de afirmar a minha própria vontade.” Há aí algo parecido com a idéia de Ivan Karamazov de que se Deus não existe, tudo é permitido, e o homem tem o direito de fazer toda a sua vontade. Está livre para pecar, suicidar, matar e destruir o próprio mundo. É o que diz Kirilov logo em seguida com irritação por ninguém compreender uma verdade que parece tão óbvia. Verkovenski indaga por que ele tem a obrigação de afirmar a sua própria vontade, e ele responde:

“-Porque toda a vontade se tornou minha. Será possível que não haja ninguém neste planeta que, tendo posto Deus de lado e acredite na sua própria vontade, se atreva a afirmar a sua própria vontade do ponto de vista mais absoluto? É como um pobre que teve uma herança mas ficou cheio de medo e não se atreve agora a aproximar-se do saco, julgando-se muito fraco para tomar conta dele. Quero afirmar a minha vontade. Mesmo que seja eu o único, hei de faze-lo.”

A vontade de Kirilov é de se matar. Ao fazê-lo transformar-se-á em Deus. Não sei se ele o faz por desespero, por não suportar a idéia de um cosmos sem Deus, sem transcendência, ou por vaidade. A segunda hipótese me parece mais plausível. Kirilov manifesta uma megalomania ainda maior que a de Chigaliev. Ele quer assumir o lugar de Jesus Cristo.

É megalomaníaco porque acredita que com o seu suicídio provará aos homens que estão livres para afirmarem também a sua vontade de modo absoluto, inaugurando uma nova era para a humanidade e salvando a todos como Cristo. Ele oferece-se em sacrifício como Cristo para salvar a humanidade:

“A salvação de todos consiste agora em provar essa idéia a toda a gente, percebes? Quem é que há-de prová-la? Eu! Não entendo como é que até agora um ateu podia saber que Deus não existe e não se suicidava logo. Reconhecer que Deus não existe e não reconhecer ao mesmo tempo que o próprio se tornou deus é um absurdo, pois de outra maneira suicidar-se-ia inevitavelmente. Se tu o reconheces és um Deus, és um rei e não te matarás, mas viverás na maior glória. Mas só o primeiro a perceber isto é que deve inevitavelmente matar-se, senão o que é que principiaria e provaria? Sou eu que vou suicidar para iniciar e para provar.”

Seu papel messiânico é reafirmado logo em seguida. A transformação que causará será tão profunda para a Humanidade que a transformará fisicamente:

“Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque no seu estado físico atual (refleti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o velho Deus. Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e acheio: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. E com isso posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova.”

Kirilov prefere matar-se em vez de experimentar a sua “terrível liberdade nova” matando, fazendo revoluções ou destruindo o mundo porque é um fraco, tímido e um ressentido. Os ressentidos, sentindo a sua impotência de agir no mundo, criam mundos imaginários em que são reis e messias. Mas os fortes, os astutos, os que têm forças e não têm medo de agir no mundo, como Verkovenski, vão manifestar a sua “terrível liberdade nova” dando vazão à sua sede de mando e destruição, à sua libido dominandi, à sua vontade de potência, sem peias, sem escrúpulos de consciência, como o super-homem nietzcheano, o grande animal sequioso de saque e de glória.

“Reconhecer que Deus não existe e não reconhecer que o próprio se tornou Deus é um absurdo!” Eis aí a chave para se compreender a mente revolucionária. Eis aí a chave para se compreender a tranqüilidade com que Lênin, Stálin, Hitler, Pol Pot, Mão Tse Tung, Pol Pot e Che Guevara podiam matar homens às toneladas e não teriam escrúpulos de destruir o mundo inteiro. Eis aí a chave para compreender como um Foucault podia achar linda uma gigantesca orgia sexual entre parceiros desconhecidos em que, no fim, todos se matavam uns aos outros. Eis aí como Verkovenski pôde fazer o que fez.

Verkovenski compreendeu bem a idéia de Kirilov, e não era um fraco, um ressentido e medroso como ele, por isto preferia matar a cometer suicídio. “No seu lugar, para mostrar a minha vontade, eu, em vez de me suicidar, matava qualquer outra pessoa.”

Verkovenski apreende a idéia não lendo livros como os intelectuais, mas emulando Stavroguine. Stavroguine é uma potência maligna bruta e não a contém porque não consegue acreditar em Deus. “Stavroguine foi também devorado pela idéia”, afirma Kirilov. Sua crença é vacilante, por isso também contém seus impulsos malignos com dificuldade em diversos instantes, como no duelo em que evita matar o adversário. Verkovenski vê naquela potência niilista que é Stavroguine um exemplo a imitar, um respaldo para cometer seus crimes sem remorsos. Quando ele manda matar Maria Timofeevna e a família, mesmo sem o consentimento explícito de Stavroguine, quer provar para si mesmo que há alguém tão perverso no mundo que ele possa emular e ser tão perverso quanto.

Por fim, Stavroguine se mata fechando o romance. Por que? Por que, não acreditando em Deus não foi experimentar a “sua terrível liberdade nova”, por que se matou se não era fraco e ressentido como Kirilov?

Quem o encontra morto, enforcado, é Daria Pavlovna, irmã de Chatov. Seu pavor poderia ter sido expresso com aquela famosa frase que permeia “O Coração das Trevas” de Conrad e fecha o filme “Apocalipse Now”: “O horror! O horror!”


[1] Introdução Geral às Obras Completas de Dostoievski da Companhia Aguiar Editora, 1963.
[2] Edmund Wilson em seu clássico “Rumo à Estação Finlândia” comenta sobre esta nova geração de revolucionários, a geração de Nechaiev, o Verkovenski do mundo real: “O reinado de Alexandre II – o novo czar reformista – havia levado a Rússia de volta para a reação na década de 1860, dando origem a um novo movimento revolucionário. Mas agora não se tratava mais de uma conspiração de cavalheiros como o movimento dos dezembristas, nem uma ebulição de intelectuais como o círculo de Petrachevski no final dos anos 1840: os agitadores agora eram estudantes pobres que estavam tendo dificuldades nos estudos causadas por um governo que se dispusera a estimular a educação, porém descobrira que permitir que as pessoas aprendessem o que quisessem necessariamente estimulava-as a desprezar o czar. Um desses estudantes era um jovem chamado Netchaiev, filho de um ex-servo, que havia se instruído o suficiente para matricular-se na Universidade de São Petersburgo. Havia lido a respeito de Babeuf e Blanqui, e vivia sonhando com sociedades secretas(...)” Netchaiev redige com Bakunine o monstruoso “Catecismo Revolucionário”, afirmação de que em prol da revolução vale tudo, matar, roubar, pilhar e de que só se pode ser amigo de quem comunga dos mesmos ideais.
[3] Acreditam que Nicolau causou o incêndio para, no meio dele, aproveitar e matar a louca Maria Timofeevna, sua legítima mulher que consituía um empecilho ao seu casamento com Lisa.
[4] Sobre as teses de René Girard sobre a crise sacrificial e o bode espiatório leia-se “A Vilência e o Sagrado”, editora Paz e Terra...
[5] WILSON, Edmund. Rumo à Estação Finlândia. Cia. Das Letras, 1987, pág. 263.

[6] WILSON, Edmund. Op.cit., pág. 264

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo o ensaio. Já é o quinto livro que leio de Dostoievski, e para mim é o mais intenso e completo dos que li. Seu ensaio é muito bom, esmiuçado ainda mais as mentes das personagens

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