quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Transtorno Bipolar e os Puritanos Scurvhamitas

Ainda vou entender o mecanismo interno da constante alternação euforia/tédio. Há dias em que todas as coisas aparecem recobertas de uma aura de prazer e fascínio e há outros em que as mesmíssimas coisas só transmitem emanações de aborrecimento. Não raro sobrevém a pergunta: por que mesmo eu achava aquilo bom, ou por que mesmo me parecia ruim? Transtorno bipolar? O problema, obviamente não está nas coisas, mas em nós. O prazer e o tédio das coisas são projeções de nossa alma. Há uma linha muito tênue a dividir a euforia da depressão, o céu do inferno. A queda pode ser repentina e surpreendente.
***

Homens auto-condenados ao inferno. Apaixonados pela perdição, fascinados pelo mal, que conscientemente se deixam perder para sempre. Existem. Penso em Mersault, e no personagem de Clint Eastwood em Os Intocáveis, ou no Marquês de Sade do filme. Sid Vicious? "Cancel my subscreption to the ressurrection. Send my credentials to the house of detention" (Jim Morrison). É triste. Certa feita, imaginei como seria alguém com o poder de prever o destino de uma alma. Joseph Fritzel teria salvação? Não dá para olhar para ele e não imaginar que é uma alma condenada. Está preso. Da prisão humana pode seguir direto para a prisão eterna. Thomas Pynchon faz troça desta espécie:
"No reino de Carlos I, Roberto Scurvham fundara uma seita que reunia os mais puros puritanos. Preocupavam-se em especial com a predestinação. Havia dois tipos. Nada para um scurvhamita jamais aconteria por acaso, a Criação era uma vasta e intricada máquina. Mas uma parte dela, a parte scurvhamita, funcionava de acordo com a vontade de Deus, sua forá motriz. O resto funcionava segundo um Princípio oposto, algo cego e sem alma, num automatismo irracional que conduzia à morte eterna. A idéia consistia em atrair novos adeptos para a divina e predestinada confraria dos scurvhamitas. Mas, sabe-se lá como, aqueles poucos scrvhamitas salvos da perdição contemplavam a reluzente maquinaria dos condenados com um misto de fascinação mórbida e horror, e isso se provou fatal. Um por um foram seduzidos pela perspectiva deslumbrande do aniquilamento, até que náo sobrou ninguém na seita. O próprio Roberto Scurham, como comandante de navio, foi o último a abandoná-la."
(O Leilão do Lote 49, pags. 140 e 141. Editora Cia. das Letras. Tradução de Iorio Dauster).

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